O mercado nacional de armazenamento de energia está em expansão, impulsionado pela queda dos preços das células de bateria e as possibilidades dos novos leilões de capacidade. Além disso, a aguardada regulação deve estimular investimentos e acelerar a implantação de sistemas.
Há vários motivos para acreditar que o mercado de armazenamento de energia por baterias está prestes a deixar de ser apenas uma promessa da transição energética para começar a se consolidar de fato no Brasil. E isso tanto no universo das aplicações behind the meter como em sistemas na escala de utilities conectados diretamente à rede elétrica, ou seja, in front of the meter.
A queda de preços acentuada das células de bateria nos últimos anos tem beneficiado a tecnologia, seja lá qual for o seu uso, se no mercado varejista, atendendo diretamente os consumidores finais, em residências ou empresas, ou no atacadista, em utilities, ajudando a estabilizar o sistema elétrico durante a alta demanda.
Da mesma forma, o desenvolvimento da regulação do setor de armazenamento, com promessa de ser finalizada ainda em maio, é outro drive importante para criar a segurança jurídica necessária aos investimentos e dar incentivos ao setor.
O prazo anunciado para a conclusão dos trabalhos da regulamentação, caso concretizado, colabora com o leilão de reserva de capacidade em forma de potência, o LRCAP Armazenamento, que visa contratar apenas sistemas com baterias. A expectativa é que a regulação, estando pronta antes do certame, torne as regras mais claras para estimular a participação de mais empresas.
A regulação definirá os modelos de negócio, as tarifas de CUST/D e as formas de conexão dos agentes de armazenamento nas redes de transmissão e distribuição. Além disso, estabelecerá as regras de outorga e a estruturação do chamado empilhamento de receitas, ou seja, os tipos possíveis de remuneração pelos vários serviços que as baterias podem ofertar.
Segundo a avaliação da Absae - Associação Brasileira de Soluções em Armazenamento de Energia, com o ambiente jurídico definido o certame pode viabilizar a implantação de cerca de 8 GWh em capacidade de armazenamento por baterias entre 2027 e 2029, o equivalente a 2 GW de potência nos chamados BESS - Battery Energy Storage System.
Mercado atrativo
Independente dos detalhes da nova regulamentação, porém, já é muito positivo para o setor o fato de o governo ter incluído as baterias no planejamento para a reserva de potência, para enfrentar o problema que tende a se agravar nos próximos anos com a chamada rampa de carga, entre 19h e 21h, quando a produção solar, sobretudo da geração distribuída, não despachável pelo ONS, deixa de gerar.
Apesar de haver a dúvida sobre o efeito de uma contratação da reserva de térmicas e hidrelétricas muito elevada no primeiro LRCAP, o que poderia inibir o de baterias, a expectativa maior é que ocorra boa contratação no certame. Além do benefício direto para contratação dos sistemas de grande escala, o sucesso do leilão, ao atrair competidores novos para o mercado, ajudaria também na expansão de uso das baterias nas outras demandas em crescimento, no behind-the-meter, em sistemas de GD de vários segmentos.
Empilhamento de receitas
A viabilidade dos sistemas de armazenamento é diretamente proporcional à possibilidade de a aplicação empilhar o maior número de funções e receitas possíveis. O uso crescente em indústrias permite o aumento do autoconsumo de plantas solares, diminuindo a injeção na rede para aproveitar melhor a energia gerada. Outra receita é o deslocamento da ponta, o que gera economia em relação à tarifa, com o uso da energia armazenada nos horários mais caros.
A mesma lógica está valendo para outros segmentos, como hotéis, comércios de maior porte, supermercados, hospitais e agro. Em alguns casos, até a aplicação residencial e comercial de menor porte começa a mostrar viabilidade.
Carga tributária
A carga tributária sobre o setor de baterias é considerada excessiva e ainda um obstáculo a ser superado. Com a soma de impostos de importação, PIS/Confins, IPI (imposto sobre produto industrializado) e ICMS, cálculos da Absae indicam que a carga pode chegar a 70% do valor total do BESS.
A despeito de carga tributária, o mercado começa a atrair novos entrantes na disputa, interessados nos aspectos favoráveis ― em sua maioria ― para os negócios futuros. Uma motivação principal é a queda no tempo de retorno sobre o investimento de sistemas de armazenamento de baterias para instalações solares em residências, comércios e indústrias.
Como motivadores conjunturais, tem-se o fim dos descontos do fio B, que vão estimular o aproveitamento da energia gerada nas unidades consumidoras, pelo armazenamento, já que a compensação pela energia exportada para a rede ficará menor. Há ainda a inversão de fluxo de potência, que tem feito distribuidoras negarem o acesso para projetos por causa da injeção excessiva de energia na rede.
O mercado deve se desenvolver tanto na seara dos projetos que devem surgir com o leilão de reserva de capacidade, como para sistemas isolados e na geração distribuída. O setor residencial também tem promessa de crescer, principalmente para oferecer segurança energética em regiões onde cada vez há mais interrupções de fornecimento.
* Resumo de reportagem assinada por Marcelo Furtado e publicada na revista Fotovolt de fevereiro de 2025, edição número 77. A matéria completa está disponível aqui .